Nota sobre o antropocentrismo ambientalista
Em artigo da Associated Press publicado pelo site de notícias G1 em 07/11/2025[1], lê-se como título: “Mineração em alto-mar pode colapsar cadeia alimentar dos oceanos, alerta estudo”.
O título, portanto, traz um alerta, uma denúncia: a mineração em alto-mar pode matar os seres vivos marinhos. De fato, uma tragédia - mais uma no menu de tragédias propiciado pela humanidade.
Seu subtítulo complementa a informação, esmiuçando-a: “Pesquisa publicada na Nature Communications mostra que resíduos liberados durante a extração de minérios nas profundezas do mar podem afetar o plâncton e, em cascata, a pesca mundial”.
De acordo com a lógica do texto, exposta em seu subtítulo, qual é, então, o cume do problema? Qual é o problema de estarmos matando os seres vivos dos oceanos por via da mineração?
Não poder matá-los no futuro por via da pesca. Óbvio!
Faz todo o sentido: o maior problema de matar agora é que não poderemos matar depois!
E o modo de matar, isso muda tudo, não é? Matar pela mineração? Não! Absurdo! Matar pela pesca (vale dizer, a maior causa de extinção da vida marinha)? Claro!
Pura genialidade ética! O que é a terrível angústia da asfixia (que pode durar mais de vinte minutos) de mais de um trilhão de peixes por ano perto do valor inestimável da realização dos desejos sensoriais humanos?!
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Tal reportagem expressa um modo de pensar muito comum em parcela considerável das preocupações ambientalistas: uma visão egocêntrica e antropocêntrica, para a qual o Universo gira em torno de nossos umbigos e possui como único propósito servi-los.
Diferentemente da postura vegana, que se preocupa com os animais como indivíduos, grande parte do ambientalismo mais mainstream costuma vê-los apenas como partes de coletivos (massas), considerando que se pode matar parcela deles desde que não se acabe com a presença de suas espécies no planeta (postura essa que, se fosse aplicada a humanos, denotaria algum tipo de sociedade autoritária e fascistoide).
A consequência almejada por tal tipo de ambientalismo dominante é que se possa manter o planeta como um enorme galpão de matéria-prima a serviço da humanidade por mais tempo.
Nessa visão, seres sencientes (dotados de sensibilidade e consciência, ou seja, capazes de sofrer) facilmente viram apenas recursos renováveis.
Em resumo, de um lado, na visão vegana, em ambientalistas mais profundos ou na fusão ideal entre a atenção para o sofrimento dos indivíduos e, ao mesmo tempo, para a qualidade de seus habitats - o que chamamos de ecoveganismo -, há preocupações de ordem ética; de outro, mesmo que em nome do verde, temos apenas expressões de um egocentrismo mascarado de bom-mocismo que diz defender o planeta enquanto tortura, asfixia, assa e come seus habitantes.
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[1] https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2025/11/07/mineracao-em-alto-mar-pode-colapsar-cadeia-alimentar-dos-oceanos-alerta-estudo.ghtml

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