Opção vegana?



Uma das ideias popularizadas nos últimos anos, como consequência dos esforços do ativismo vegano (e a percepção das empresas de que veganos podem ser um nicho de mercado a ser explorado), é a da existência de “opções veganas”, seja em cardápios de restaurantes, seja dentre os produtos de uma marca.

Com isso, normalizou-se a ideia de que ser vegano seria apenas uma opção individual, tal como escolher comer macarrão ou lasanha.

Em suma, passado o período em que o veganismo foi um movimento de oposição enérgica ao absurdo moral do carnismo contemporâneo, a sociedade parece ter abraçado a “opção vegana” como mais uma das possibilidades atuais de manifestação dos gostos e identidades individuais.

(Para ser mais acurado, o próprio termo "vegano(a)", fortemente ligado a uma postura ética, parece ter sido apagado e diluído no estranho termo "plant-based" - uma traquinagem de marketing).

Comer ou não comer animais se tornou, então, apenas uma questão de gosto, de escolha. Mas não, não é. Questões de ordem ética não podem ser questões de mera opção pessoal. Quem diria: “estuprar ou namorar, a escolha é tua?” Ou “assassinar ou conviver, a escolha é tua?”. Obviamente, a maior parte das pessoas entenderia haver um alto nível de indecência e imoralidade na proporcionalidade de tais opções.

E por que assim não o é quando a vítima é um ente senciente (capaz de sentir e ter algum grau de consciência – portanto, sofrer), mas de outra espécie?

Essa diversidade de julgamento, que exclui grande parcela dos entes sencientes do planeta dos benefícios da reflexão ética e da compaixão, reflete um preconceito arraigado em nossos padrões culturais, o especismo, ou seja, a ideia de que animais de outras espécies (que não a humana) são inferiores e tal pretensa inferioridade justificaria toda forma de opressão e violência.

O especismo não sobrevive a uma análise racional e moral, e é por isso que, no mundo contemporâneo, com o conhecimento que já acumulamos e com as opções de consumo existentes, o veganismo não deveria ser compreendido apenas como uma opção, mas como um “mínimo ético necessário”, como uma aplicação aos demais entes sencientes de nossos mais básicos princípios morais.

Pode-se optar namorar com aquela ou aquela pessoa, mas nunca abusar de nenhuma. Pode-se escolher comer salada ou macarrão, mas nunca o corpo ou as secreções de um ente aprisionado, torturado ou assassinado. As opções são meandros disponíveis dentro de margens éticas que, em nome da sanidade, da justiça e da compaixão, deveriam ser intransponíveis.

Veganismo, assim, não é uma opção, mas apenas o exercício da normalidade ética, da correção moral.

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