Paredes de vidro: os erros de Paul Mccartney



Paul McCartney (que, absurdamente, após décadas defendendo o vegetarianismo, nunca se tornou vegano) disse que se os matadouros tivessem paredes de vidro, todos seriam vegetarianos. Pois bem: muitos anos se passaram depois que isso foi dito e, apesar de os matadores não terem envidraçado suas paredes, a “quarta parede” caiu. Diversos filmes, amadores ou profissionais, expuseram com total crueza o que se passa atrás das paredes opacas. Nem seria mais preciso espionarmos de fora, através do vidro. Fomos levados para dentro dos matadouros. Nossas mentes puderam se conectar com a câmera-olho, de modo que estivéssemos lá, internamente, no calor e no terror da barbárie.

Alguns humanos viram, refletiram e concluíram: o veganismo é uma necessidade ética para nossos tempos.

A maioria, contudo, seguiu inerte, inabalada, e isso inclui parte substancial daqueles que também viram.

A realidade é que as paredes poderiam ser de vidro, os abatedouros poderiam ser em praças públicas, ou mesmo na cozinha de cada casa. A maioria das pessoas não teria se tornado vegetariana. Paul McCartney errou (assim como erra em continuar a patrocinar a exploração de vacas e galinhas para consumir ovos, leite e queijos): a raiz da questão não é apenas a falta de conhecimento. Para a maioria, prazeres sensoriais justificam a colaboração com a pesada tortura de mais de um trilhão de seres sencientes por ano.

A ética passa por bloquear em nós os impulsos naturais mais primitivos da autossobrevivência - o “tudo vale” para garantir alimentação, reprodução e moradia. Poucos humanos se esforçam em transcender a natureza. Maquiamos o “tudo vale natural” com vernizes de civilidade e conforto, mas a guerra egoísta e hedonista segue dominante. 


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