A necessária dualidade moral na relação humanidade-natureza


A necessária dualidade moral na relação humanidade-natureza*


O presente ensaio analisa a relação entre a humanidade e a natureza (o que inclui nossa relação com os demais animais). Para isso, ele caminha por duas vias morais: uma que nos reaproxima da natureza e outra que dela nos distancia. Como guia para tal caminhada em duas direções eticamente complementares, recorremos ao conhecimento científico.

Reaproximando-nos: filhos do Universo, da Terra e da evolução da vida

Considerando que, para além de qualquer diferença que possamos ter, habitamos todos neste mesmo Universo, parece-nos adequado ouvirmos primeiramente o que têm a dizer as ciências que lidam com tal Universo em sua imensa magnitude, ou seja, o que nos contam ciências como a astronomia e a cosmologia.

Uma aposta com tal espírito foi apresentada por Neil Postman como parte de uma reflexão sobre o currículo escolar:

quando se trata de temor reverencial, não há nada que se compare com a astronomia”. [...] Seu estudo inevitavelmente suscita perguntas fundamentais sobre nós mesmos e nossa missão. [...] A Astronomia oferece confirmação de uma ideia intuitiva expressa ao longo dos séculos por pessoas de diferentes culturas. Heráclito escreveu que todas as coisas são uma só. Lao-tzé disse que todas as coisas são reguladas por um único princípio. O cacique de Seattle da comunidade suquamish declarou que todas as coisas estão conectadas. [...] A astronomia, portanto, é uma disciplina chave se desejamos cultivar em nossos jovens um senso de temor reverencial, interdependência e responsabilidade global. (POSTMAN, 2002, p.108-111).

 

Não é difícil entender as motivações que levaram Postman a tal afirmação. Como manter uma visão de si mesmo como "o centro do mundo" (egocentrismo) após uma boa aula sobre a história e o tamanho do Universo, considerando suas distâncias astronômicas, a quantidade estupefaciente de estrelas e galáxias existentes e nossa localização periférica em apenas uma galáxia entre trilhões, orbitando apenas uma estrela nada especial entre sextilhões de estrelas?

A distância média entre nosso satélite natural, a Lua, e a Terra é de aproximadamente 384.000km. [...] a distância média entre a Terra e o Sol é de 146 milhões de km. [...] O gigante Júpiter, de tamanho 11 vezes maior que o da Terra, está a uma distância 5 vezes maior que aquela entre a Terra e o Sol. [...] Plutão [...] está [...] cerca de 40 vezes mais distante do Sol que a Terra. [...] Nos limites do Sistema Solar está a região onde se originam os cometas, cerca de 100.000 vezes mais distante do Sol que a Terra. [...] A uns 4 anos-luz do Sol está ⲁ (=Alfa) Centauri, a estrela mais próxima de nós. [...] O Sol e as estrelas mais próximas encontram-se a aproximadamente 30.000 anos-luz do centro desse sistema estelar do qual fazemos parte. Esse sistema é a nossa Galáxia, [...] que contém em torno de 100 bilhões de estrelas. (MAGALHÃES, 2000, p.13-14).

 

Esses são apenas alguns dados quantitativos entre inúmeros referentes a distâncias e temporalidades que nos tiram de nossa percepção comum da vida, ou seja, que forçam uma expansão em nossa espaço-temporalidade normal, cotidiana.

Ao entrar em contato com a realidade astronômica - por via da educação, por exemplo -, o mundo nos convida a sairmos de nós mesmos, de nossas próprias vidas, nossos próprios problemas, conceitos e preconceitos. Essa mediação é extremamente importante e seria extremamente proveitoso se ela fosse feita nas escolas, pois podemos ser profundamente modificados ao entrarmos em contato com dados e comparações espaciais e temporais que façam com que vejamos a nós mesmos habitando em um mundo no qual pode-se medir distâncias em bilhões de anos-luz e processos em bilhões de anos.

Nossas intrigas, divergências, opiniões e trajetórias individuais ganham outro contorno quando as vemos em relação a tamanhas grandezas. Por mais importante que sejam nossas vidas, nossas diferenças e nossas opiniões, estamos todos juntos em um minúsculo ponto do Universo, de um Universo absurdamente maior do que nós mesmos ou do que nosso planeta (que orbita uma estrela dentre ao menos cem bilhões de estrelas da Via Láctea, que é apenas uma entre dois trilhões de galáxias, que unem, no total, sextilhões de estrelas). Sendo assim, um senso de proximidade e unidade pode surgir do conhecimento astronômico e do ensino de astronomia. Importantes aprendizados morais e mesmo um profundo senso de compaixão e proximidade por todos que compartilham essa “poeira cósmica” conosco pode derivar desse aprendizado.

Além do reposicionamento que podemos dar às nossas vidas ao entrarmos em contato com as distâncias e temporalidades astronômicas, vale também considerar que é raríssima e especialíssima a situação em que, além de haver um Universo, esse Universo permite a existência de planetas habitáveis. Ainda mais especialíssimo é o período de tempo em que existe nosso Sistema Solar e um planeta a certa distância desse Sol que permite, por relativamente longo tempo, a evolução ininterrupta da vida. Tal tempo, ainda que longo para as referências humanas, se acabará.

a Terra é única, e devemos nossa existência a ela. Primeiro, temos uma cumplicidade com o Sol, nossa estrela-mãe. A energia que vem de lá, e que vem chegando aqui por quase 5 bilhões de anos, é fundamental para a vida.

A Terra fica no que chamamos de zona de habitabilidade, a faixa de distância de uma estrela onde a água, se houver, tem chance de ser líquida. A premissa, aqui, é que, sem água, a vida é impossível. (GLEISER, 2019, p.123)

 

Somos todos filhos dessa brecha temporal e espacial, desse encontro entre incontáveis variáveis que permitiram que, por algum tempo, estejamos todos aqui. Essa delicadeza de nossa condição comum, temporária, extremamente dependente de incontáveis condições sobre as quais não possuímos nenhum poder, poderia nos aproximar. Nossas diferenças são ínfimas perto da grandeza desse Universo e da chance quase impossível de que estivéssemos aqui.

Ainda, a Terra é feita do mesmo material de que é feito o Universo, especialmente de matéria produzida no interior de estrelas que, após morrerem, dispersaram tal material. Nós, seres vivos, somos feitos do mesmo material de que é feita a Terra e, portanto, as estrelas. Somos, portanto, filhos do Universo. Nas palavras de Carl Sagan (2006, p.31):

[...] à exceção do hidrogênio, todos os átomos que compõem cada um de nós - o ferro no sangue, o cálcio nos ossos, o carbono no cérebro - foram fabricados em estrelas vermelhas gigantes a milhares de anos-luz no espaço e a bilhões de anos no tempo. Somos feitos, como gosto de dizer, de matéria estelar.

 

            Ou ainda, nas palavras de Dawkins:

Ao decompor a luz estelar em espectroscópios, ficamos sabendo que as estrelas são fornalhas nucleares, fundindo hélio a partir do hidrogênio que predomina na sua massa; depois aglomerando os núcleos de hélio na cascata posterior de impurezas que formam a maior parte do resto dos elementos, forjando os átomos de tamanho médio de que somos finalmente feitos. (DAWKINS, 2000, p.79)

 

Saber que somos feitos da mesma matéria não apenas que dos demais seres vivos, mas da Terra e das estrelas, pode, se essa informação for bem mediada (por um bom professor, por exemplo), gerar um enorme senso de proximidade e familiaridade com todo o Universo, com todo o planeta e com todos os seres que aqui habitam.

Ainda, além de sermos filhos do Universo, somos também filhos da Terra e de toda a história da vida neste planeta, e essa percepção também deve direcionar nossa mentalidade e nossa moralidade.

Derivamos dos bilhões de anos do Universo e também dos bilhões de anos de existência e transformação do planeta Terra. Parece-nos essencial que vivamos o cotidiano com essa abertura temporal em mente.

Assim como um microscópio ajuda as nossas mentes a penetrar pelas galerias estranhas das membranas das células, e assim como um telescópio nos eleva a galáxias remotas, outro modo de sair da anestesia é retroceder, na nossa imaginação, pelo tempo geológico. (DAWKINS, 2000, p. 27)

 

Sair da anestesia, nas palavras de Dawkins, é perceber a magia presente no mundo a nossa volta como se fôssemos poetas, mas a partir do que as ciências nos mostram sobre tal mundo. Considerando o interesse do presente ensaio, podemos traduzir o "sair da anestesia" não apenas como apreciar o mundo que nos rodeia, mas, principalmente, como nos perceber sendo partes de redes incomensuráveis de relações que formam isto que chamamos de "mundo" e perceber o quanto isso deve moldar nosso comportamento, ou seja, nossa moralidade. Assim é com o conhecimento astronômico e assim é com nosso olhar para a história de nosso planeta.

Seguindo o curso de nossa história, irmana-nos não apenas o Universo e o planeta, mas toda a vida que aqui se desenvolveu a partir da mesma matéria cósmica e estelar.

A Terra tem uma idade aproximada de 4,53 bilhões de anos. Nos primeiros 600 milhões de anos, a situação aqui era bem dramática, com bombardeios constantes vindos dos céus, colisões de asteroides e cometas que "sobraram" durante a formação dos planetas e das suas luas. Esses visitantes trouxeram toda uma gama de compostos químicos e muita água, ingredientes da sopa que, em torno de 3,5 bilhões de anos atrás ou mesmo antes disso, daria origem às primeiras criaturas vivas. Essas criaturas, muito simples, eram seres unicelulares do tipo procariotas. Vemos fósseis deles em algumas rochas bem antigas, como as descobertas na costa oeste da Austrália, na Baía do Tubarão. (GLEISER, 2019, p.124)

 

Além de filhos do Universo e da Terra, somos, portanto, também filhos dessa história da evolução da vida nesse planeta, que se iniciou há mais ou menos três bilhões e meio de anos. Esse fato, por tratar de seres vivos e suas relações (ou seja, nós), tem potencial para modelar com ainda mais força nossa moralidade.

No primeiro bilhão de anos em que houve vida na Terra, pouco mudou. Não houve grande variedade nas espécies. Contudo,

A Terra foi se resfriando, os oceanos já bem formados, e regiões com terra firme foram cobrindo pequenas partes da superfície. Foi então que, em torno de 2,4 bilhões de anos atrás, esses seres unicelulares passaram por uma ou mais mutações fundamentais: descobriram a fotossíntese, a capacidade de transformar a energia solar em energia metabólica, consumindo gás carbônico e produzindo oxigênio. Aos poucos, essas criaturas foram mudando a composição da atmosfera da Terra, que foi ficando cada vez mais rica em oxigênio.

Devemos, em grande parte, nossa existência a essas bactérias e a essa mutação. (Ibid., p.124)

 

Vale refletirmos sobre essa última afirmação. Devemos nossa existência às bactérias existentes há 2,4 bilhões de anos! Como manter uma visão de mundo egocêntrica após uma afirmação como essa? Não apenas dependemos de tudo o que existe no mundo ao mesmo tempo que nós, nem mesmo apenas dependemos de nossos ancestrais ou das fontes de nossas culturas. Se não fosse um processo de mudança genética ocorrido em bactérias há bilhões de anos, não estaríamos aqui. Esse é mais um exemplo, entre muitos, de como o conhecimento científico, ainda mais se bem mediado (e, na educação, esse é um papel fundamental de um bom professor), pode gerar em nós alterações profundas em nossas cosmovisões, alterações nos próprios fundamentos de como definimos o que nós somos, nosso "eu", e o quanto esse "eu" difere-se ou une-se ao restante do Universo (a tudo o que seria, portanto, "não-eu").

Não estamos aqui por acaso. Somos produto disso tudo, das inúmeras mutações que transformaram bactérias em pessoas, dos acidentes cataclísmicos que redefiniram as condições planetárias, das inúmeras mudanças que ocorreram no decorrer de bilhões de anos de história. (Ibid., p. 125).

 

Por mais óbvia que seja a afirmação a seguir, vale repeti-la, pois nosso comportamento destrutivo em relação ao planeta prova que pouco a consideramos no modo como fundamentamos moralmente nossas ações: devemos tudo o que temos, de bom e de ruim, ao Universo e, especialmente, à Terra. Apenas existimos como partes de uma imensa rede de relações que já dura bilhões de anos, desde o Big Bang até nós. Sendo assim, tecermos nossas vidas sem essa visão interdependente e complexa, como se pudéssemos nos ver como o centro do Universo, sendo o Universo e a natureza terrestre apenas uma coleção de coisas à serviço dos humanos, obviamente cria modos de vida que estão em contradição com os próprios fundamentos da existência e da vida. Se algo está em contradição com os fundamentos da vida, o resultado óbvio é a oposição à vida, ou seja, uma cultura de opressão da vida, de mortificação dos seres que coabitam este planeta conosco e de destruição de seus ambientes.

Apenas para reforçar o incomensurável conjunto de fatores externos a nós mesmos que permitem que estejamos aqui, ou seja, que questionam nossos egoísmos, vaidades e narcisismos, vejamos mais alguns:

Comparada aos outros mundos que conhecemos, a Terra se distingue por ser um oásis para a vida. Sua atmosfera protege a superfície dos raios ultravioleta letais que vêm do Sol. O campo magnético - resultado da circulação de ferro e níquel líquidos no centro do planeta - funciona como um escudo contra a radiação nociva que vem do espaço, principalmente partículas oriundas do Sol. O movimento lento das placas tectônicas, os grandes blocos de terra firme onde estão os continentes, recicla o gás carbônico entre os oceanos e a atmosfera. Termos apenas uma Lua, bem grande, que estabiliza o eixo de rotação da Terra em sua inclinação de 23,5 graus, permitindo que as estações do ano continuem ritmicamente por milhões de anos. Juntas, essas propriedades transformam nosso planeta no que é, a casa de milhões de formas de vida, das profundezas dos oceanos até os picos gelados das montanhas geladas. (Ibid., p.125).

 

Devermos nossa existência a inúmeros fatores externos e anteriores a nós mesmos, mas, para que não caiamos em um novo modelo de egocentrismo, do tipo "o Universo inteiro conjugou seus processos para que eu esteja aqui agora", é preciso considerar que o longo e complexo processo de evolução do Universo, além de possivelmente não ter sido intencional, não gerou apenas a nós, a humanidade, mas a uma gigante gama de seres vivos que só existem em relação e graças a toda a história da vida antes deles e a todos os seres que coexistem com eles no mesmo momento da história da vida.

Existe [...] algo muito incrível com relação à vida, o fato de que toda a vida na Terra tem a mesma raiz. [...] Todas as criaturas, das plantas e insetos a pessoas, são descendentes do mesmo progenitor, [...] que viveu em torno de 3 bilhões de anos atrás. Todos os seres vivos estão interconectados pela sua história evolucionária.

De acordo com a biologia moderna, e conforme Darwin intuiu no seu clássico A origem das espécies, a mãe de todas as criaturas vivas foi uma bactéria. (Ibid., p.132).

 

Após uma boa aula sobre a evolução da vida na Terra, como manter uma visão de mundo na qual o próprio indivíduo é o centro do mundo ou mesmo na qual a própria cultura, o próprio povo, a própria etnia, ou qualquer outra divisão do gênero, seja o centro do mundo, o objetivo da "criação" do Universo ou a detentora da verdade oficial sobre os motivos da existência do próprio cosmos?

Sendo assim, no imenso leque de descobertas científicas fundamentais, a evolução das espécies (tal como proposta por Charles Darwin e aprimorada por diversos cientistas posteriores) se destaca quando o assunto é pensarmos nossa relação com as demais espécies do planeta Terra.

A vida evolve através de mutações aleatórias nos genes das criaturas, sem uma direção específica. Algumas dessas mutações são benéficas, mas a vasta maioria é nociva. De vez em quando, uma mutação leva a uma vantagem seletiva: o mutante é mais rápido, ou mais forte, ou mais esperto, e isto lhe permite viver por mais tempo e se reproduzir mais, deixando uma prole de "mutantinhos" mais poderosos do que seus primos. Eventualmente, após muito tempo, a espécie inteira será diferente de seus ancestrais de gerações passadas. (Ibid., p. 132).

 

Em suma, Darwin adicionou à antiga percepção da vida como eterna transformação a ideia de seleção natural. Isso significa que indivíduos e gerações de seres vivos tendem a contribuir mais ou menos para as características sobreviventes em suas espécies dependendo do quanto estiverem adaptados aos meios em que vivem.

Com os avanços da Genética posteriores a Darwin, compreendeu-se melhor este processo: cada novo ser nascido recebe informações genéticas de seus “progenitores” (pais e mães em animais sexuados, mas também por outros meios, incluindo os meios vegetais) e nesse percurso podem ocorrer mutações nos genes, gerando características que não existiam antes. Essas mutações podem significar algo bom ou algo ruim para o novo ser. Isto é, podem ajudar ou atrapalhar a adaptação deste ser às condições ambientais e modos de vida possíveis em seu tempo e lugar. Se uma mutação trouxer benefícios, provavelmente o ser vivo será bem sucedido em sua sobrevivência e ele reproduzirá mais que os outros.

À medida que mais gerações de seres forem nascendo com essa nova característica, permitindo maior adaptabilidade ao ambiente e maior facilidade de sobrevivência, possibilitando maior tempo de vida e de número de reproduções do que os que não a possuem, tal característica tenderá a ser o padrão em tal espécie. Muitas mutações ao longo do tempo acabam criando uma nova espécie (quando os membros desta não conseguirem mais se reproduzir com os membros da espécie antiga).

Novas espécies também são impulsionadas por mudanças geográficas, já que em cada lugar, dadas as especificidades ambientais, características diferentes são benéficas e seres diferentes acabam se dando melhor, ou seja, outras mutações genéticas são úteis e novas espécies acabam surgindo.

Compreender a evolução da vida na Terra a partir das lentes darwinianas permite percebermos que nós, humanos (Homo sapiens), somos apenas mais uma das espécies que vêm surgindo e se transformando desde mais ou menos 3,6 bilhões de anos atrás, quando as primeiras bactérias parecem ter surgido. Compartilhamos ancestrais comuns com as demais espécies e com elas possuímos proximidade genética. O trabalho de Darwin e seus sucessores ganha, assim, enorme relevo, inclusive moral.

Entender a vida como algo que se recria a cada momento de forma interdependente, em um processo no qual todas as espécies são partes importantes, nos leva a alterar valores: o ser humano não é o centro do universo. Não somos a espécie mais importante da Terra. As outras espécies não foram criadas em função do ser humano, para nosso uso ou domínio, mas evoluiram neste mundo assim como nós. Convivemos no mesmo momento da história da vida que todos os outros seres vivos atualmente existentes. Coabitamos o mundo.

Somos todos partes de uma rede impressionantemente imensa de seres vivos que tentam permanecer vivos no estupendo conjunto de relações que é a vida. Nenhum ser é independente ou mais importante que outro. Essa compreensão pode levar a uma profunda crítica da tradição antropocêntrica e especista[1] de nossas ciências e moralidades.

Nós mesmos não somos apenas nós mesmos. “Cada um de nós é uma grande cidade de células, e cada célula, uma cidade de bactérias. Somos uma grande megalópole de bactérias” (DAWKINS, 2000, p.27). Sem essas bactérias, o organismo humano seria impossível, dado que elas cumprem papéis essenciais dentro de nós. O que justifica a arrogância antropocêntrica?

É difícil para nós pensarmos na escala de tempo da história da vida na Terra. Nossa mente não está adaptada para pensar na escala temporal de bilhões de anos. Sendo assim, não nos é intuitivo ou não faz parte de nosso senso comum pensar em quantas espécies já surgiram e desapareceram, quantas extinções em massa já houveram, quantas explosões de vida já ocorreram, quantas vezes a vida saiu e voltou para as águas etc. É difícil perceber o quão pequena é nossa participação nessa história (ainda que nosso poder destrutivo e criativo não seja nada pequeno), mas é preciso.

Conhecer melhor a vida na Terra, as demais espécies, nos ajuda a sabermos melhor como agir em relação a elas. Assim, no fundamento do processo de conhecimento, há um profundo questionamento ético, e, dada a calamidade ambiental em curso (que prova-se por qualquer breve navegação por revistas e jornais), é urgente que vivamos nossa dimensão ecológica, relacional, de modo eticamente aceitável. O olhar que Darwin nos permite construir nos impulsiona a nos reconectarmos com a vida na Terra e com os cuidados que ela requer.

Do ponto de vista da arquitetura de nossa moralidade, é extremamente enriquecedor contemplar os incríveis e gigantescos processos que envolvem adaptações e relações, do nível dos genes ao dos ecossistemas. Se aprendermos a considerar tais inúmeros conjuntos de relações como partes fundantes de nossa percepção do mundo, podemos almejar o surgimento de consciências capazes de perceber o mundo de forma ecológica, com pensamento mais complexo e relacional, algo essencial para uma boa ética, já que a ética tem a ver justamente com a qualidade de nossas relações, e, portanto, com a qualidade dos critérios que utilizamos para tecer tais relações.

Em outras palavras, o assombro que a percepção da magnanimidade do Universo e da história da vida pode nos gerar (que é o ponto de partida tanto das ciências quanto das religiões) e a noção, ainda que limitada, sobre tudo o que já ocorreu e continua ocorrendo para que a vida exista deveriam estar no fundamento de nossa moralidade no que se refere ao modo como nos relacionamos com o mundo do qual somos parte, ou seja, com nossa natureza.

Descobrir que o Universo tem [...] bilhões de anos, em vez de 6 a 12 mil anos, aumenta a nossa apreciação de sua extensão e grandiosidade; [...] descobrir [...] que o nosso planeta é um dentre bilhões de outros mundos na galáxia da Via Láctea, e que a nossa galáxia é uma dentre bilhões de outras, expande majestosamente a arena do que é possível; saber que os nossos antepassados eram também os ancestrais dos macacos nos une ao restante da vida e torna possíveis reflexões importantes [...] sobre a natureza humana. (SAGAN, 2006, p. 29-30).

 

Uma consequência do conhecimento científico, portanto, poderia ser o aumento de nossa consciência sobre o mundo para vivermos vidas pautadas em princípios mais nobres, dignos e respeitosos. Isso difere do “conhecer para dominar”, tão presente na história das ciências, como podemos ver no livro Discurso do Método, de Descartes, um dos pais da ciência moderna, que defende que aprendendo sobre a natureza e sua força “poderíamos utilizá-los da mesma forma em todos os usos para os quais são próprios, e assim nos tornar como senhores e possuidores da natureza” (DESCARTES, 1999, p.86-87).

Alguns momentos de ruptura dentro do conhecimento científico apontam para tal direção. A passagem da visão de mundo geocêntrica para a visão heliocêntrica no século XVI é um poderoso exemplo: deixamos de nos ver no centro do Universo, literalmente. Com o desenvolvimento posterior da astronomia e das lunetas e telescópios, vimos que não apenas não somos o centro do Sistema Solar, mas estamos na periferia de uma galáxia que é apenas mais uma galáxia entre trilhões de galáxias. No século XIX, Darwin nos reposicionou novamente. Dessa vez, não no Universo, mas na própria Terra. Não somos o centro da vida, a "cereja do bolo da criação".

O conhecimento científico, assim, nos pressiona a nos reposicionarmos no mundo e nos impele a alterarmos nossas cosmovisões. É preciso que compreendamos a profundidade do novo “cosmos” oferecido pelas ciências, enriquecendo nossa moralidade em um amálgama entre fatos e valores.

 

Apartando-nos: agindo como seres morais

Até o presente ponto deste ensaio, discutimos como o ato de perceber nossa existência a partir de um olhar astronômico, geológico e evolutivo pode nos ajudar a nos aproximarmos da natureza e desenvolvermos formas ecologicamente válidas de arquitetarmos nossas ações.

 Outra consequência advinda dessa percepção astronômica, geológica e evolutiva de nossa existência poderia ser a de nos atentarmos para todos os seres sencientes que coabitam conosco neste planeta. Todos lidamos com a dificuldade de permanecermos vivos em uma natureza complexa em que a vida depende da morte. Percebendo tal vida através de um sistema nervoso, a presença de consciência e sofrimento é inescapável.

          A tomada de consciência ética a partir do conhecimento científico necessita, portanto, de nuances: do ponto de vista ecológico, realmente devemos nos reconectar à teia da vida da qual fazemos parte, assim como às dinâmicas planetárias que permitem nossa existência. Mas, se por um lado Darwin nos ajuda a nos recolocarmos na teia da vida na Terra, por outro lado ele nos revela com crueza a brutalidade de tal teia.

          Quando se fala que há seres que estão mais ou menos adaptados para sobreviverem em determinado contexto ambiental, podemos traduzir como “seres que conseguem se alimentar melhor dos outros, fugir melhor de seres que querem se alimentar deles e se proteger melhor das intempéries da natureza, tais como temperatura, fogo, chuva etc.”.

          Darwin, assim, nos revela um mundo ao mesmo tempo belo e terrível, onde reina uma natureza fria e impiedosa na qual se um indivíduo não se sobressai sobre os demais (tanto da mesma espécie, quanto das demais – presas ou predadoras), vira comida ou cadáver.

          Isso acontece tanto com indivíduos quanto com espécies, que tendem a se extinguir quando deixam de estar bem adaptadas ao meio em que vivem (considerando que os meios transformam-se com o tempo, espécies antes bem sucedidas podem tornar-se minguantes e extintas no futuro).

          A compreensão que a evolução das espécies pela seleção natural nos permite ter sobre a existência gera em nós, portanto, uma profunda questão moral, pois, por nossa natureza, por nossa origem natural e genética, justificaria-se qualquer coisa que fizéssemos para nos destacarmos dos demais, aniquilarmos concorrentes, privilegiarmos nossos próprios interesses, aumentarmos nossas possibilidades de sobrevivência ou aumentarmos o número de indivíduos carregando parte de nosso código genético.

          Em outras palavras, se seguíssemos apenas nossa natureza, não haveria como se questionar a validade de atos como roubo, escravidão, assassinato ou estupro.

          Sendo assim, se pretendemos vivenciar moralidades e políticas pautadas na preocupação com o sofrimento alheio e não apenas na sobrevivência pessoal a qualquer custo (por exemplo, oprimindo ou escravizando seres para realizarmos nossos desejos individuais), devemos negar em nós os impulsos primeiros de nossa natureza.

          Trocar a autossobrevivência impiedosa e a busca por se destacar do bando a qualquer custo por tentativas de estabelecermos relações vitais compassivas e respeitosas – tanto políticas quanto ecológicas – significa, portanto, opor-se à lógica básica da natureza.

          Assim como a reconexão com a natureza anteriormente discutida, essa oposição também deve estar no fundamento de nossas mais profundas considerações morais. Ou seja, é preciso que tenhamos tanto um movimento de reaproximação da natureza (ecologicamente falando), quanto um movimento de distanciamento da ordem natural (eticamente falando). Ambos os movimentos podem ser bem embasados pelo conhecimento científico.

          Vejamos pois uma conclusão ética de imensa importância e urgente, a partir de certezas científicas contemporâneas, que deveria modificar completamente a cultura humana: no dia 7 de julho de 2012, durante a Francis Crick Memorial Conference on Consciousness in Human and non-Human Animals, no Churchill College da Universidade de Cambridge, os cientistas  Low, Edelman e Koch apresentaram a Declaração de Cambridge sobre a Consciência Animal. Nela é possível ler que:

 

A ausência de um neocórtex não parece impedir que um organismo experimente estados afetivos. Evidências convergentes indicam que os animais não humanos têm os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos de estados de consciência juntamente como a capacidade de exibir comportamentos intencionais. Consequentemente, o peso das evidências indica que os humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência. Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e as aves, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem esses substratos neurológicos. (Low et al., 2012).

 

          Essa declaração foi apresentada na conferência acima citada e assinada pelos participantes da mesma, com a presença, por exemplo, de Stephen Hawking[2].

          Philip Low, neurocientista canadense e principal autor da declaração acima, em entrevista para a revista brasileira Veja, disse ainda:

sabemos que todos os mamíferos, todos os pássaros e muitas outras criaturas [...] possuem as estruturas nervosas que produzem a consciência. Isso quer dizer que esses animais sofrem. É uma verdade inconveniente: sempre foi fácil afirmar que animais não têm consciência. Agora, temos um grupo de neurocientistas respeitados que estudam o fenômeno da consciência, o comportamento dos animais, a rede neural, a anatomia e a genética do cérebro. Não é mais possível dizer que não sabíamos. (PIRES, 2012).

 

          Tal afirmação, “não é mais possível dizer que não sabíamos”, apesar de forte, retrata o estado atual do conhecimento humano sobre o grau de consciência presente em animais não humanos. Tais animais são, portanto, sencientes, ou seja, possuidores de sensibilidade e consciência. Isso acarreta graves consequências e pesadas demandas para nossa moralidade,

porque considerações morais se traduzem em fatos sobre como nossos pensamentos e ações afetam o bem-estar de criaturas conscientes, como nós mesmos. Se existem fatos a serem descobertos sobre o bem-estar de tais criaturas — e há —, então deve haver também respostas certas e erradas a perguntas de cunho moral. (HARRIS, 2003, p.66).

 

          Considerando, no espírito dessa afirmação de Harris, os animais não-humanos, pode-se refletir que:

 

O provimento de si inclui a busca do próprio bem físico e psicológico, no caso de animais dotados de senciência. Um animal é um ser vivo que provê a si mesmo a partir de sua própria consciência, e esta, embora seja típica de cada espécie, analogamente ao que ocorre nos humanos, também é única em cada indivíduo. A perda da liberdade, para um animal, representa uma ameaça à sua futura consciência específica de si.

[...]

Dotado da liberdade de mover-se para prover-se, todo animal é constituído de uma forma específica de senciência (sensibilidade e consciência) [...]. Por isso, enjaular, aprisionar ou confinar animais, em suma, escravizá-los, representa para eles o pior tormento. (FELIPE, 2008, p.92-94)

 

O conhecimento científico atualmente vigente nos força, portanto, a revermos comportamentos estabelecidos, haja vista que:

todas as questões de valor (certo e errado, bem e mal etc.) dependem das possibilidades de se experimentar este ou aquele valor. Sem consequências na esfera da experiência — felicidade, sofrimento, alegria, desespero etc. —, qualquer conversa sobre valores é vazia. Portanto, dizer que um ato é moralmente necessário, ou mau, ou inocente, é fazer inferências (tácitas) sobre suas consequências na vida de criaturas conscientes (sejam elas reais ou potenciais). (HARRIS, 2003, p.66).

 

E, como nos afirma o filósofo Peter Singer,

Se um ser sofre, não pode haver nenhuma justificativa de ordem moral para nos recusarmos a levar esse sofrimento em consideração. Seja qual for a natureza do ser, o princípio de igualdade exige que o sofrimento seja levado em conta em termos de igualdade com o sofrimento semelhante - até onde possamos fazer comparações aproximadas - de qualquer outro ser. [...] É por esse motivo que o limite da sensibilidade ([...] capacidade de sofrer ou sentir alegria [...]) é o único limite defensável da preocupação com os interesses alheios. Demarcar  esse limite através de uma característica, como a inteligência ou a racionalidade, equivaleria a demarcá-lo como arbitrário. (SINGER, 2002, p. 67-68).

 

Voltando ao domínio da pesquisa científica, consideremos as palavras do etologista (especialista em comportamento dos animais) Mark Bekoff:

é evidente que sabemos muito sobre as emoções dos animais. Embora obviamente ainda reste muito a aprender, o que já sabemos deveria ser suficiente para inspirar mudanças na maneira como tratamos os animais. Precisamos transformar conhecimento em ação. Não podemos simplesmente continuar nas condições em que estamos, porque isso é o que sempre fizemos. O que sabemos mudou, e o mesmo deveria acontecer com o nosso relacionamento com os animais. Temos de refletir sobre o fato de que muitos animais têm emoções e sofrem - eles sentem amor e dor - e então considerar todas as maneiras pelas quais tratamos os animais hoje em dia na nossa sociedade e decidir o que é certo e o que é errado. Quando reconhecemos que algo é errado, devemos nos empenhar para mudar isso. (BEKOFF, 2010, p.148).

 

Em síntese, se sabemos que animais são sencientes, ou seja, que possuem sensibilidade e consciência, se sabemos que animais sofrem, possuem comportamentos específicos, linguagem e emoções, o que justificaria, do ponto de vista ético, tamanha diferença de julgamento sobre o que seria normal e aceitável fazermos com um ser humano ou com um animal não-humano?

Sabemos que os seres animais não são “coisas” que existem para nossa conveniência. Os animais são seres subjetivos que têm sentimentos e pensamentos, e merecem nosso respeito e consideração. Não temos o direito de subjugá-los ou dominá-los em proveito próprio - fazer com que nossa vida fique melhor tornando a vida dos animais pior. (Ibid., p.150).

 

Assim, retomando o que foi proposto anteriormente, do ponto de vista moral, é preciso que saibamos nos afastar da lógica natural. O foco principal da vida humana, eticamente falando, não deve ser apenas a garantia da própria sobrevivência. “A ética nos ajuda a calcular o melhor curso de ação quando existem muitas opções e as nossas informações são incompletas, condicionais ou conflituosas” (Ibid., p.150). As ciências, como estamos defendendo, podem agir justamente fornecendo tais informações de forma mais completa, complexa e coesa, alimentando, desta forma, uma reflexão ética igualmente mais completa, complexa e coesa.

No caso aqui analisado (a relação entre humanos e outros animais), une-se conclusões da ciência contemporânea e reflexão ética, isto é, trata-se de um exemplo de como o conhecimento científico pode formatar (e, neste caso, vem formatando) movimentos sociais em busca de transformações morais, comprovando a proposta apresentada na introdução deste ensaio.

Sabemos que os resultados da pesquisa científica deveriam influenciar o modo como agimos no mundo; do contrário, a ciência se torna um exercício sem sentido. E também sabemos que os animais sentem emoções e sofrem em nossas mãos, e isso acontece em nível global. A ética, com E maiúsculo, precisa ter um lugar em nossas atuais deliberações sobre como interagir com outros animais. (Ibid., p. 150)

 

Se almejamos levar à sério as conclusões éticas baseadas em conhecimento científico, precisamos, como sociedade, avaliar todos os aspectos de nossa interação com outros animais. Isso passa por questões como o que comemos, como nos divertimos, como nos vestimos e mesmo como fazemos ciência. Vê-se assim que propostas comportamentais contemporâneas, feitas por movimentos sociais como os defensores dos direitos dos animais, são, antes de tudo, não apenas ideologias, mas conclusões éticas racionais e cientificamente embasadas.

É claro que “obter uma uniformidade total na esfera moral — tanto no plano interpessoal quanto no intrapessoal — pode ser impossível” (HARRIS, 2003, p.70). Contudo,

a partir do momento em que aceitamos que existem respostas certas e erradas para questões de cunho moral, precisamos admitir também que muitas pessoas simplesmente estão erradas a respeito da moralidade. (Ibid., p.70-71).

 

          E, essencial considerar,

uma das maiores tarefas da civilização é criar mecanismos culturais que nos protejam das falhas corriqueiras das nossas intuições éticas. Precisamos pôr o melhor de nós em nossas leis, nossos códigos fiscais e nossas instituições. [...] quanto mais entendermos as causas e constituintes da realização humana [e animal], e quanto mais soubermos a respeito da experiência dos outros seres humanos [e animais], mais conseguiremos tomar decisões inteligentes sobre quais políticas sociais devemos adotar. (Ibid., p.74).

 

Com essa citação, resumimos o coração de nossa proposta e nos damos, ao menos teoricamente, por satisfeitos, demonstrando a importância do raciocínio moral  e a dualidade ética que o encontro entre ciência e ética pode alimentar, ou seja, o fato de que devemos tanto nos aproximar de nossa natureza ecológica, quanto nos afastar da lógica natural.

 

Referências bibliográficas

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* Revisão e ampliação de excerto de monografia apresentada em 2021 para a obtenção do título de especialista em Ciência e Tecnologia pela UFABC sob o título "A contribuição das ciências para o aprimoramento ético da relação entre humanidade e natureza”.  



[1] Especismo: preconceito dirigido a todos os membros de espécies não humanas. Trata-se da ideia de que animais não-humanos são inferiores e podem ser tratados diferentemente do modo como julgamos ser correto tratar humanos, desconsiderando o fato de que também são capazes de sofrer e possuem consciência. Partindo dessa concepção, seria normal e aceitável, por exemplo, prendê-los, engaiolá-los, retirá-los à força de seus habitats, usá-los para nossos próprios interesses e assassiná-los. A crítica ao especismo aponta para a acusação de que os animais ainda vivem em condição de pesada e violenta escravidão. Seu uso é correlato ao uso dos conceitos “racismo” ou “sexismo”, por exemplo.

[2] É possível assistir tal declaração em vídeo no endereço https://fcmconference.org/#talks.

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