Moralidade: você escolhe?

 


Recentemente, a segunda maior processadora de “proteína animal” do Brasil, “com 22 unidades de abate, 12 de processamento e oito centros de distribuição instalados no Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e Estados Unidos” ou seja, uma de nossas maiores fábricas de assassinato de animais, lançou um hambúrger vegetal.

A propaganda que fizeram sobre tal hambúrguer encerra-se com a seguinte mensagem: “Animal ou vegetal a escolha é sua” (assim, sem vírgula, pois erros de escrita não são mais problemas para nossa mídia. Mas esse erro é minúsculo perto dos erros morais que tal empresa comete).

Animal ou vegetal, a escolha é tua. Com essa mensagem, dizem: comer animais ou comer vegetais é apenas uma questão pessoal, de gosto pessoal. Mas não, não é. Moralidade não pode ser questão de opção. Quem diria: “estuprar ou namorar, a escolha é tua?” Ou “assassinar ou conviver, a escolha é tua?”. Obviamente, essas questões seriam vistas como revelando alto nível de indecência e imoralidade. E por que assim não o é quando a vítima é um ser senciente (capaz de sentir e ter algum grau de consciência – portanto, sofrer) de outra espécie?

Essa diversidade de julgamento reflete um preconceito arraigado em nossos padrões culturais, o especismo, ou seja, a ideia de que animais de outras espécies (que não a humana) são inferiores e tal pretensa inferioridade justificaria toda forma de opressão e violência.

O especismo não sobrevive a uma breve análise racional e moral, mas de quem mata milhões de animais tranquilamente por dinheiro, não se deve mesmo esperar princípios morais.

Agora o matadouro oferta produtos sem carne, visando a fatia em crescimento do mercado, os vegetarianos. Faz sentido: correr atrás do lucro é o que os move.

Parcela dos veganos acredita que se tal fatia aumentar imensamente, talvez processadoras de cadáveres tornem-se processadoras de legumes e grãos. Faz sentido: gostam mais de dinheiro do que de carne. Ainda, falar com o bolso das pessoas tende a ser mais efetivo do que falar com o cérebro ou com o coração. É o que somos como espécie. 

Contudo, a mensagem passada pela empresa-matadouro apenas retrata o que são: títeres moralmente cegos capazes de qualquer crueldade para a obtenção de capital, seu deus e titereiro.

Dennis Zagha Bluwol, 2020

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