O problema das posturas brandas no movimento vegano (2020)



Uma das posturas atualmente presentes no movimento em defesa dos animais é a tentativa de criar imagens sociais mais positivas: substituir a imagem do ativista nervoso que põe o dedo na cara das pessoas e que causa discussões em todo jantar de família. É compreensível. Se se quer dialogar, não há como fazê-lo afastando as pessoas.

Uma via para tal, seguida por parcela dos ativistas, é um tipo de abrandamento de discurso, uma tentativa de se escrever certo por linhas tortas, apelando-se para todo tipo de argumento paralelo à ética animal que “caia melhor” para quem não se preocupa com animais. A esperança é que, com essas iscas, as pessoas chegariam, de alguma forma misteriosa, ao coração da questão. Nessa esperança, usa-se todo tipo de argumento, como pretensos ganhos para a saúde, populismo pseudo-socialista, ambientalismo midiático ou o que convier.

Entendo e aceito a importância de não ser agressivo no diálogo educativo com as pessoas. Quando faço trabalhos educativos sobre ética animal, o que faço é, de forma educada, mas séria, expor tudo o que está em jogo na exploração e consumo dos animais e, de forma lógica, mostrar a obrigação moral de sermos veganos. A fala não é agressiva, mas o conteúdo é sério e radical (vai à raiz da problemática ética). Assim, não se cai nem no erro da agressividade que afasta o interlocutor nem no erro de se abrandar tanto o discurso que se acaba por tranquilizar os responsáveis por comportamentos altamente questionáveis em relação aos animais.

          Não tratamos com algo fácil. Por mais que o veganismo seja racionalmente e moralmente lógico, é muito difícil convencer as pessoas. Mas, independentemente desse fato, é nosso papel falar com veracidade e sermos incisivos na exposição sobre a condição dos animais. Se não nós, veganos, ninguém mais o fará.

Na busca de passar uma mensagem mais cool, aproximar-se mais da sociedade ou atrair público, veganos colaboram com a degeneração do veganismo. Gera-se, a partir do comportamento de certos vegetarianos, certo espírito de alegria e de normalidade, mesmo que o sofrimento dos animais siga seu fluxo brutal. Veganos não mais incomodam. Foram aceitos e podem pagar de bons moços enquanto as lâminas trabalham.




Comentários

  1. Que mudança grande ocorreu nos últimas 10+ anos, hein...
    O bom mocismo está em alta. Uma pena...

    ResponderExcluir

Postar um comentário