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Nota sobre o antropocentrismo ambientalista

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Em artigo  da Associated Press publicado pelo site de notícias G1 em 07/11/2025 [1] , lê-se como título: “ Mineração em alto-mar pode colapsar cadeia alimentar dos oceanos, alerta estudo ”. O título, portanto, traz um alerta, uma denúncia: a mineração em alto-mar pode matar os seres vivos marinhos. De fato, uma tragédia - mais uma no menu de tragédias propiciado pela humanidade. Seu subtítulo complementa a informação, esmiuçando-a: “ Pesquisa publicada na Nature Communications mostra que resíduos liberados durante a extração de minérios nas profundezas do mar podem afetar o plâncton e, em cascata, a pesca mundial ”. De acordo com a lógica do texto, exposta em seu subtítulo, qual é, então, o cume do problema? Qual é o problema de estarmos matando os seres vivos dos oceanos por via da mineração? Não poder matá-los no futuro por via da pesca. Óbvio! Faz todo o sentido: o maior problema de matar agora é que não poderemos matar depois! E o modo de matar, isso muda tudo, não é? Matar pel...

Tombamento de Carreta na Rodovia: sobre a hierarquia das dores

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   Tombamento de Carreta na Rodovia: sobre a hierarquia das dores Crônica enviada para a Academia Estudantil de Letras da Prefeitura de São Paulo.   Informou-me o pragmático rádio no caminho para a escola em que leciono: uma carreta tombou no trecho oeste do Rodoanel. Há trânsito na região. A trágica notícia da manhã era, obviamente, sobre o trânsito. O conteúdo da carreta, porcos vivos, era apenas um detalhe editorial perante a magnitude da hedionda maximização do pesar matinal dos motoristas, do horror cotidiano do trabalhador citadino. Mais trânsito! Maldita carreta! Maldito trânsito! Maldito dia! Durante a sequência de meu percurso, duas dúvidas angustiaram-me: os motoristas que passavam pela rodovia no momento do acidente enxergavam porcos agonizantes ou desperdício de linguiças? E, para os porcos, teria sido melhor o terror de morrer sob os escombros da carreta ou terem sobrevivido até o destino a eles planejado? (Como soube depois, um frigorífico em Carapicuíba. Mi...

Aprimoramento ético: a razão basta? O caso do veganismo

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   Aprimoramento ético: a razão basta? O caso do veganismo Rumino em vão O reinado do absurdo Trança a razão Acredito que a melhor forma de se criar balizas éticas coerentes é pelo exercício da razão, buscando-se as melhores maneiras para que geremos a mínima imposição possível de sofrimento e aliviemos o máximo possível de sofrimento desnecessário ou injustificável. Esse esforço criou, por exemplo, argumentos de enorme coerência e validade para justificar a necessidade ética do veganismo no mundo contemporâneo. Esses argumentos têm sido compartilhados (com diferentes graus de qualidade) por filósofos, educadores veganos e ativistas nas últimas décadas. Contudo, mesmo que consideremos apenas aqueles divulgadores do veganismo que expõem seus princípios de forma lógica e didática (não considerando os diversos péssimos divulgadores que já representaram o veganismo nos debates públicos), seus resultados sempre foram absolutamente menores do que o desejado. É comum que após uma apr...

Opção vegana?

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Uma das ideias popularizadas nos últimos anos, como consequência dos esforços do ativismo vegano (e a percepção das empresas de que veganos podem ser um nicho de mercado a ser explorado), é a da existência de “opções veganas”, seja em cardápios de restaurantes, seja dentre os produtos de uma marca. Com isso, normalizou-se a ideia de que ser vegano seria apenas uma opção individual, tal como escolher comer macarrão ou lasanha. Em suma, passado o período em que o veganismo foi um movimento de oposição enérgica ao absurdo moral do carnismo contemporâneo, a sociedade parece ter abraçado a “opção vegana” como mais uma das possibilidades atuais de manifestação dos gostos e identidades individuais. (Para ser mais acurado, o próprio termo "vegano(a)", fortemente ligado a uma postura ética, parece ter sido apagado e diluído no estranho termo "plant-based" - uma traquinagem de marketing). Comer ou não comer animais se tornou, então, apenas uma questão de gosto, de escolha.  M...

A revolução da lâmina (Poema)

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   A revolução da lâmina, Em bruto sarcasmo existencial, Obra-prima de infernais cunhadores de palavras, Intrinsecamente subverte O animal nela contido. Revisão de poema presente na crônica " O animal e a lâmina " (2013)

Fogos de artifício: ética e desesperança

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É amplamente conhecido o fato de que fogos de artifício, especialmente aqueles com barulho (estampidos) causam imenso sofrimento aos animais. O alto som, repentino, desencadeia reações como pânico, dor, tentativa desesperada de fuga, ansiedade, convulsão, desmaio, choque contra objetos e morte por diversas causas em grande variedade de espécies domesticadas e silvestres. Em humanos, diversos sofrimentos podem ser gerados, especialmente em crianças pequenas, idosos e pessoas com sensibilidade ao barulho, degeneração cognitiva, autismo, epilepsia, entre outras condições.  Isso sem falar em incêndios e outros acidentes. Uma pesquisa recente, realizada pelas entidades Sebrae e Instituto Euvaldo Lodi (IEL) [1] , revelou que 62,4% dos entrevistados estão cientes dos incômodos gerados pelos fogos de artifício para animais e pessoas (sendo que 36% inclusive conhecem pessoas com autismo ou outra condição de saúde que são afetadas pelo barulho de tal estranha forma de diversão). Apesar...

No antropocênico açougue (Poema)

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     No antropocênico açougue - Corpulento signo da hodierna coleta - O corriqueiro sapiens sapiens, Perpetuamente ávido, Imperiosamente famélico, Em banal exercício da existência habitual, Pleistoceniza o senso comum